UMBANDA... UM POUCO DA HISTÓRIA

Dia 16 de Novembro de 1908 às 20:00 horas ,na cidade de Neves estado do Rio de Janeiro foi o dia do nascimento da Umbanda.
Mas , como estava o Brasil nesta ocasião? Vamos fazer uma ligeira retrospectiva na história do Brasil ,e relembrar como foi a Abolição da escravidão no Brasil ,e assim ,tentar sentir como pensavam e agiam as pessoas daquela época. Quais os preconceitos existentes naquele início de século.
Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou a economia e serviu de base à pirâmide social brasileira ; durante esse período, reações individuais e coletivas - os levantes - representaram a outra face das relações entre senhores e escravos no Brasil.
Humilhação ou revolta - a dominação teve limites preciosos durante praticamente todo o período colonial. Só no final do século XVIII, quando as idéias dos liberais europeus passaram a ser difundidas entre nós, é que se começou efetivamente a considerar a possibilidade da extinção do cativeiro.
Enraizado no liberalismo europeu, que pregava a igualdade de direitos entre os os homens, o movimento pela independência no Brasil deveria necessariamente incluir em seu programa a abolição da escravatura. Por que isso não aconteceu ? As teorias liberais serviam como uma luva à realidade das classes em ascensão da Europa, onde, com o capitalismo industrial em plena expansão, já não mais interessava manter um sistema colonial baseado no trabalho escravo. Mais que uma postura humanitária, o que motiva a burguesia industrial da Europa eram suas aspirações de expansão do mercado consumidor.
No Brasil essa atitude liberal "emprestada" traduziu-se por uma oposição dos produtores nacionais, ricos proprietários de terras, ao monopólio colonial. As idéias de liberdade e igualdade foram travestidas para servir aos interesses das elites agrárias, a quem, evidentemente, muito interessava a manutenção do trabalho escravo.
Vozes isoladas
Durante o Primeiro Reinado algumas vozes isoladas se fizeram ouvir em favor da abolição.
Hipólito José da Costa, redator do Correio Braziliense , pregava a extinção gradual da escravatura, sugerindo a substituição da mão-de-obra escrava por imigrantes assalariados . Personalidades ligadas ao Governo, como José Bonifácio e o padre Feijó , argumentavam que a manutenção do trabalho escravo era inconveniente ao pleno desenvolvimento da economia brasileira. Todos eles, porém, reconheciam que a abolição não poderia ser imediata, sob pena de levar ao colapso uma economia baseada na monocultura de exportação, na dependência exclusiva do braço escravo.
A opinião dos escravistas.
A partir do momento em que a escravidão começou a ser contestada também por homens brancos e livres, os proprietários de escravos se viram na contingência de responder com argumentos aos ataques dos abolicionistas. Afirmavam, por exemplo, que os negros eram "infiéis" (não cristãos); a escravidão não seria mais do que um instrumento para a salvação de suas almas.
Outro "argumento", semelhante ao anterior, dizia que os senhores brancos apenas cumpriam uma missão civilizadora , tirando os negros de seu ambiente "selvagem" e transferindo-os para um ambiente onde, mesmo escravizados, eles tinham melhores condições de vida.
Na segunda metade do século XIX, tornou-se comum uma justificativa que se pretendia "científica". Tomando como base algumas teorias raciais (e racistas) difundidas na Europa, os senhores afirmavam que os negros tinham o crânio menor que o dos brancos, o que provava sua inferioridade "natural". Parecia-lhes correto, assim, que os "inferiores" servissem a seus "superiores" brancos. Com o passar do tempo, a argumentação mais freqüente para justificar a manutenção do cativeiro se reportava a um aspecto bem mais material. Afirmando que a abolição da escravatura representaria a ruína da lavoura, os escravistas tocavam diretamente nos interesses da classe dominante, principal beneficiária em termos econômicos. Foi essa a tática mais eficaz dos escravistas.
Os interesses da Inglaterra.
Com o desenvolvimento do capitalismo industrial na Inglaterra, o sistema colonial - que desempenhou um papel básico no período anterior, de capitalismo mercantil - tornou-se um empecilho para a expansão da economia. Como as colônias possuíam o monopólio do fornecimento de produtos tropicais, a indústria inglesa não podia escolher sua matériaprima onde o preço fosse menor; além disso, como a produção colonial era baseada no trabalho escravo, as possibilidades de expansão do mercado consumidor se viam limitadas. Mais ainda, a manutenção de escravos representava um capital imobilizado, que com o emprego de mão-de-obra assalariada poderia ser aplicado na compra de produtos manufaturados e implementos agrícolas. Sem falar da massa de trabalhadores negros que, livres, representariam um respeitável mercado consumidor potencial.
A oposição inglesa ao trabalho escravo e ao sistema colonial estendeu-se aos países econômica e politicamente dependentes da Inglaterra, como Portugal (e o Brasil) no início do século XIX.
Assim, em 1810, o regente Dom João assinou um Tratado de Aliança e Amizade com a Coroa britânica em que estabelecia o livre comércio entre o Brasil e a Inglaterra e se comprometia a limitar o tráfico negreiro para o Brasil às colônias portuguesas da África.
Em I817 Dom João concedeu o "direito de visita" à Marinha inglesa, permitindo-lhe vistoriar todos os navios portugueses suspeitos de tráfico negreiro. Enfim, quando foi proclamada a independência no Brasil, a Inglaterra condicionou o reconhecimento da nova nação à proibição do tráfico escravo. O atendimento a essa exigência foi sendo postergado até que, em 1831, a Regência Trina Permanente oficializou a proibição. Mas o tráfico continuou à revelia da lei. A Inglaterra não desistiu. Sentindo-se prejudicada por medidas protecionistas tomadas pelo Governo imperial e às vésperas de expirar o prazo que lhe concedia o "direito de visita", promulgou em 1845 o Bill Aberdeen. Essa lei equiparava o tráfico negreiro à pirataria e dava à Marinha britânica o direito de apresar os navios negreiros que encontrasse. O Governo imperial não tinha como resistir sem entrar em um confronto direto. Em 1850, foi apresentada ao Congresso, e aprovada, uma lei que levou o nome de seu autor, o ministro Eusébio de Queirós, e que extinguia definitivamente o tráfico negreiro no Brasil.
A campanha abolicionista.
É somente após a extinção do tráfico negreiro e, de modo mais acentuado, após a Guerra do Paraguai, que podemos falar em campanha abolicionista como um movimento social organizado, de caráter eminentemente urbano, baseado em setores não comprometidos com a escravidão: profissionais liberais, comerciantes, jornalistas e intelectuais.
A atuação desses militantes tornava-se cada vez mais ousada. Além de comícios e da propaganda escrita, empreendiam incursões noturnas às senzalas, dando fuga aos escravos. Os fugitivos eram abrigados, a seguir, em "quilombos" de novo tipo, organizados por abolicionistas. Ficaram famosos o quilombo Jabaquara , na Baixada Santista , fortaleza inexpugnável dirigida por Quintino Lacerda, que abrigava os fugitivos encaminhados por Luís Gama e Silva Jardim; ou a fazenda de Bernardino de Campos, em Amparo (São Paulo), onde se refugiavam os escravos libertados por Antônio Bento e seus seguidores, os "caifases".
As atividades dos abolicionistas eram subvencionadas por diversos clubes e sociedades que promoviam eventos para a arrecadação de fundos e se encarregavam da propaganda dos ideais do movimento. O primeiro deles foi a Sociedade Emancipadora Fraternidade , fundada em 1870 pela Loja Maçônica Amizade. Essas sociedades se multiplicaram pelas principais cidades do Brasil e finalmente, em 1883, foram agrupadas na Confederação Abolicionista , uma estrutura coesa, de âmbito nacional. Paralelamente, nos meios intelectuais , na literatura e na imprensa, os abolicionistas criaram uma "retaguarda ideológica" para a sustentação do movimento. Vários mulatos e negros libertos se destacaram nesse campo, dentre eles Castro Alves, Luís Gama, André Rebouças e José do Patrocínio.
Uma das primeiras publicações abolicionistas foi o semanário paulista O Diabo Coxo, criado em 1864. Era ilustrado por Ângelo Agostini e redigido por Luís Gama. Anos depois surgia O Radical Paulistano, onde escreviam regularmente Luís Gama , Joaquim Nabuco , Castro Alves e o estudante Rui Barbosa.
A partir de 1880 a imprensa antiescravista se implantava no Rio de Janeiro , com A Gazeta de Notícias , de José do Patrocínio , e A Gazeta da Tarde.
Em 1882 , Raul Pompéia e Antônio Bento de Sousa e Castro fundaram em São Paulo o Jornal do Comércio. A esta folha abolicionista veio se juntar A Redenção, também dirigida por Antônio Bento, que na proposta editorial pregava "a libertação imediata, sem prazo".
Radicais, moderados, positivistas e "pragmáticos" A profusão de periódicos abolicionistas correspondia à realidade de um movimento que estava longe de ser homogêneo. Várias correntes e opiniões contraditórias coexistiam no movimento. Embora todas tivessem um mesmo objetivo, a abolição da escravatura, divergiam quanto à maneira de conduzir a luta.
Os "moderados", cujo melhor exemplo é sem dúvida a figura de Joaquim Nabuco , temiam as agitações sociais e achavam que a luta pela abolição deveria se processar institucionalmente , entre as paredes do Parlamento.
Os positivistas, de certa forma, se confundiam aos moderados. Denunciando a irracionalidade que representava a escravidão, encaravam-na como um fator de desorganização econômica e social. Preconizavam a abolição lenta , vinculada a um programa que propiciasse a integração do negro à sociedade. Entretanto , nunca tiveram participação mais ativa no movimento, recusando-se a reforçar, com sua presença, as posições "anti-científicas" das demais correntes abolicionistas. Os principais representantes do positivismo ortodoxo foram Francisco Brandão Jr. e Teixeira Mendes.
Os "radicais" consideravam imprescindível a participação popular na luta abolicionista e chegavam a estimular os levantes de escravos. Desse grupo participavam Raul Pompéia , Antônio da Silva Jardim, José do Patrocínio e Luís Gama. É deste último uma frase famosa que caracteriza bem a posição dos radicais: "Ofendido em seu direito, o escravo que mata seu senhor, mata em legítima defesa".
E, finalmente, havia um grupo "pragmático" de abolicionistas , para quem a extinção da escravatura era, acima de tudo, um negócio vantajoso. Nesse grupo estavam os cafeicultores do oeste paulista, que, percebendo as vantagens do trabalho assalariado e a inevitabilidade da abolição, preferiam que ela fosse feita gradualmente, à medida que a mão-de-obra escrava fosse sendo substituída pelo trabalho assalariado. Seu principal porta-voz era Campos Sales.
Uma abolição gradual.
Aos poucos, os partidários da abolição gradual começaram a ganhar terreno. Para isso contribuíram, sem dúvida, as pressões crescentes dos Estados Unidos e da Inglaterra. Em resposta a essas pressões e à opinião pública, o Governo brasileiro promulgou, em setembro de 1871, a Lei Rio Branco, conhecida como "Lei do Ventre Livre".
Por essa lei eram emancipados os filhos de mulheres escravas nascidos a partir daquela data. Na realidade, porém, nada se alterava, pois o senhor da mãe escrava conservava o "direito aos serviços gratuitos dos menores até os 21 anos completos". Tratava-se apenas de uma medida para apaziguar os ânimos abolicionistas e ganhar tempo.
Esse objetivo foi alcançado. O movimento perdeu força e só se recuperou na década seguinte. A resposta à nova ofensiva abolicionista foi outra lei paliativa. A 28 de setembro de 1885 era aprovada a Lei Saraiva-Cotegipe ou "Lei dos Sexagenários", que emancipava os escravos de mais de 65 anos. Na prática, essa lei apenas liberava o dono de escravos da responsabilidade pela manutenção da mão-de-obra improdutiva.
Os abolicionistas, porém , não mais se deixariam conter ou iludir. O movimento conquistava um respaldo popular crescente e dos mais variados setores sociais: a Igreja, o Exército, associações de classe patronais e de empregados.
A imprensa abolicionista fervilhava e se multiplicava. As fugas de escravos contavam com uma rede de apoio tão vasta que possibilitava o transporte dos fugitivos para o Ceará , onde a escravidão fora extinta em 1884.
Tornaram-se comuns as grandes manifestações de rua. Repetiam-se as passeatas e comícios onde a palavra de ordem era a frase de José do Patrocínio: "A propriedade do escravo é um roubo". Finalmente, em 1888, os antiescravistas conquistaram a maioria no Parlamento. Refletindo a nova correlação de forças, a 7 de maio de 1888 o Congresso aprovava, por imensa maioria, um projeto de lei com o seguinte texto: "Artigo 1°. É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Artigo 2°. Revogam-se as disposições em contrário". Assinado a 13 de maio pela regente do trono, Princesa Isabel, o projeto transformou-se na Lei Áurea. Entretanto, ao contrário do que se esperava, a abolição não significou a emancipação efetiva da população escravizada. Sem medidas institucionais que promovessem sua integração à sociedade, os negros foram entregues à própria sorte. Desprotegidos e discriminados, acabaram engrossando os contingentes marginalizados que se aglomeravam na periferia das grandes cidades.
Na realidade, a abolição veio afastar alguns dos obstáculos ao desenvolvimento da economia brasileira, cujo pólo dinâmico se baseava cada vez mais no trabalho assalariado.
Beneficiavam-se os cafeicultores "modernos", de São Paulo, para quem a medida era sinônimo de incentivo à imigração européia; em contrapartida, os decadentes "barões do café", de terras já esgotadas, e donos de muitos escravos, retiraram seu apoio ao regime imperial, derrubado em 1889.
É facil perceber que no início do século XX , ainda existiam muitos preconceitos em relação aos negros e índios , antigos escravos.
Infelizmente dentro dos centros Cardecistas que praticavam o Espiritismo , movimento filosófico importado da Europa , não permitiam a manifestação dos espíritos de índios e negros, considerados espíritos atrasados ou ignorantes.
É neste clima que o jovem Zélio com seus 17 anos amparado pelo Caboclo das sete encruzilhadas inicia o movimento Umbandista.

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